O uso irracional de antibióticos, mal que acontece em todo o mundo, foi o tema da aula do Curso Somiti para Residentes e Especializandos em Medicina Intensiva (Cremi), ministrado pelo médico clínico e intensivista Rogério Fonseca Sad, dia 28 de agosto, na Associação Médica de Minas Gerais (AMMG).
A venda de antibióticos sem prescrição é proibida pela Anvisa desde 2010. Atualmente, é possível observar as mudanças ocasionadas pela portaria. “O uso irracional de antibióticos é menor do que em um passado recente”, aponta Sad. Sem fazer generalizações, o médico percebe que ainda existe uma tendência por parte dos médicos de prescreverem antibióticos sem muito critério, embora há médicos que os prescrevem corretamente. “O número de prescrições de antibióticos é muito alto em hospitais, assim como a troca de antibióticos sem a real necessidade”, diz. “Esse excesso produz um alto custo social e financeiro, além de um aumento da resistência das bactérias”. O médico ainda ressalta que os antibióticos utilizados no domicílios, nas lavouras e nos gados também contribuem para essa situação.
Em função do uso indiscriminado de antibióticos, Sad destaca que há superbactérias responsáveis por infecções graves, de difícil tratamento e que tendem a fragilizar o sistema imunológico de alguns pacientes em hospitais, o que infelizmente pode levar ao óbito. Embora os pacientes que fazem uso indiscriminado de antibióticos não apresentem sintomas clássicos, Sad diz que é possível identificar no pronto socorro a existência de bactérias resistentes logo no primeiro atendimento. “Isso acontece devido ao uso de antibiótico prévio ou pelo convívio com pessoas que utilizaram o antibiótico, o que causa infecções”, ressalta.
Felizmente, é possível evitar isso racionalizando o uso de antibióticos e gerenciando toda a cadeia, desde a fabricação até a administração do antibiótico. “A única saída para preservar a capacidade terapêutica dos antibióticos é reduzir essa resistência bacteriana. É o único caminho, e com certeza, um dos mais importantes”, explica o especialista. A avaliação médica e presencial no dia a dia, assim como saber de onde o paciente vem, se ele fez uso prévio de antibióticos nos últimos 90 dias, se esteve internado ou passou por hemodiálise recentemente e se é diabético ou não são fatores que devem ser considerados ao escolher o antibiótico e a dosagem certa para o paciente em questão. “Não use antibiótico pra aliviar a consciência”, alerta.
Outra medida muito óbvia, mas que acaba sendo esquecida no dia a dia hospitalar é lavar bem as mãos antes e após o contato com os pacientes, o que minimiza as transmissões. “Todo infectologista bate nessa tecla”, diz.
Estudantes se atentam à importância do uso racional de antibióticos na medicina intensivista
Ester Almeida, aluna do 8º período de medicina na Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCMMG), estava entre os ouvintes do módulo sobre o uso irracional de antibióticos. “O palestrante nos conscientizou sobre a importância do uso do antibiótico correto, assim como o tempo e a dose adequados para o tratamento, por exemplo”, avalia. A estudante destaca a consciência e a atenção médica na atividade intensiva para um desfecho positivo. “Ter sapiência de quando e como intervir, principalmente no que diz respeito à antibioticoterapia é fundamental para reverter quadros de sepse, desafio em vários centros de terapia intensiva”, analisa.
Ilanna Naoli, estudante de medicina do 10º período da UFMG, também se conscientizou sobre o tema da palestra. “O médico intensivista precisa estar a par dos últimos estudos e ser capaz de questionar os resultados. Feito isso, ele precisa aplicar isso em seu dia a dia, sempre atento aos possíveis desfechos”, diz.
O curso acontece sempre às terças-feiras, 18h30, na sede da AMMG, e as inscrições são gratuitas. Informações: 3222-3172.