No último dia 30 de outubro (terça-feira), os alunos do Curso para Residentes e Especializandos em terapia Intensiva (Cremi) conferiram aula sobre Injúria Renal Aguda (IRA), ministrada pela nefrologista e mestranda em Ciências da Saúde Marília Vilela, na Associação Médica de Minas Gerais (AMMG).
A médica fez uma abordagem diferenciada e iniciou a aula apresentando a história e a evolução da nefrologia desde 1801 até os últimos anos, passando pelas mudanças de nomenclatura e de conceitos ocorridas a partir de 2002.
Dentre os momentos mais significativos, a nefrologista aponta o ano de 1951 como decisivo, quando o termo Falência Renal Aguda foi cunhado. Até então, não existiam padronizações que permitiam comparar de forma clara e assertiva os casos e a incidência de pacientes com problemas renais, especialmente aos dados relacionados à creatinina, embora a gravidade desse distúrbio renal já fosse conhecida.
Em 2002, especialistas do mundo inteiro se reuniram e elaboraram a classificação RIFLE, sendo esta a primeira iniciativa para uniformizar os conceitos. Traduzindo do inglês para o português, RIFLE é a sigla para Risco de Disfunção Renal (Risks), Injúria/Lesão para o rim (Injury), Falência da Função Renal (Failure), Perda da função renal (Loss) e Doença renal em estágio terminal (End stage renal disease).
Em 2007, o mesmo grupo de 2002 se reuniu para fazer uma nova classificação e, deste encontro, surgiu o AKIN. Na reunião de 2012, destacaram os pontos mais fortes do RIFLE e do AKIN, resultando no KDIGO, uma terceira classificação.
Vilela destaca o RIFLE pela sua inovação, unificação e padronização, além da impactante mudança de alguns conceitos. “O termo Falência Renal Aguda, utilizado por muitos anos, caiu por terra. Atualmente, usa-se Injúria Renal Aguda (IRA), que pode ser reversível ou não. Quando se fala em falência, isso passa uma ideia de algo definitivo e, na maioria das vezes, não é”, pondera.
No entanto, a nefrologista destaca que, ao tratar de pacientes com IRA, o intensivista deve prestar atenção no aumento da creatinina, no débito urinário e em outras taxas que, mesmo sofrendo alterações sutis, possuem grande impacto.
Neste contexto, a atuação dos enfermeiros é fundamental. “São esses profissionais que medem a ureia e orientam os técnicos de enfermagem, o que faz a diferença para a atuação dos médicos e também muda a conduta, classificação e forma de enxergar o doente”, diz.
Lidando com IRA na Terapia Intensiva
Infelizmente, os dados relacionados à incidência da IRA são preocupantes, uma vez que possuem associação com a mortalidade. A cada 10 pacientes de UTI, 3 vão sofrer com o problema, o que é significativo.
Diante desta situação, intensivistas precisam avaliar se o paciente possui fatores de risco para desenvolver IRA. Idosos, negros, hipertensos e diabéticos são os mais vulneráveis, além dos pacientes oncológicos, seja em função do tratamento e/ou da inflamação do tumor.
Ao examinar o paciente, é preciso saber a origem da IRA antes de tratá-lo. A nefrologista destaca algumas hipóteses a exemplo de obstruções na sonda, pós-operatório de pacientes que passaram por cirurgia abdominal ou cálculo renal, dentre outros. Tais problemas podem ser diagnosticados por meio de ultrassom. Exames de urina também revelam muito sobre a saúde do paciente.
A nefrologista também desmistifica a associação entre hemodiálise e mortalidade. “Paciente não morre porque está em diálise. Ele morre porque seu estado é tão grave a ponto de precisar de diálise”, diz.
Ao lidar com pacientes com IRA na Terapia Intensiva, recomenda-se que o intensivista suspenda todos os agentes nefrotóxicos quando for possível, passando por escolhas alternativas de anti-inflamatórios e antibióticos, além de garantir status volêmico e pressão de perfusão e considerar alternativas a procedimentos com contraste.