Durante o módulo ‘ABCDE do Trauma’, ministrado no dia 20 de novembro na Associação Médica de Minas Gerais (AMMG), o especialista Rômulo Andrade Souki compartilhou sua vasta experiência como plantonista do Hospital João XXIII e instrutor do Curso ATLS (Advanced Trauma Life Support), junto aos alunos do Curso para Residentes e Especializandos em Medicina Intensiva (Cremi), ambos da Somiti.
Souki iniciou o módulo destacando que o trauma é uma doença. “Não é apenas um efeito, um acontecimento ou um fato inesperado”, diz. Durante o módulo, o médico ressaltou pontos relevantes do ATLS e do mnemônico ABCDE, intercalando com relatos de casos que vivenciou como plantonista do João XXIII.
Souki destaca a importância da avaliação primária e da avaliação secundária, sendo que a primeira deve ser repetida para identificar qualquer piora na situação do doente que indique necessidade de outra intervenção.
A avaliação primária busca identificar a ameaça à vida do paciente, a exemplo de uma obstrução de via aérea ou hemorragia incontrolável. “O objetivo inicial desse primeiro atendimento é manter o paciente politraumatizado vivo e salvá-lo”, diz, ressaltando que o atendimento deve ser guiado pelas práticas da mnemônica ABCDE.
Souki ainda destaca que o exame primário e a reanimação das funções vitais são feitos simultaneamente, sendo este um trabalho realizado em equipe. Nesta etapa, a preparação e a reavaliação também são importantes.
Por sua vez, a Avaliação Secundária Detalhada baseia-se em Medidas Auxiliares de Reavaliação, sendo necessário fazer um exame físico do paciente da cabeça aos pés. Em seguida, é feita a escolha do tratamento definitivo.
De acordo com o conceito do ATLS, as prioridades são as mesmas para todos os doentes: obesos, atletas, idosos, crianças e idosos. No entanto, deve-se considerar algumas particularidades. “A fisiologia do idoso é diferente da fisiologia de um jovem adulto, por exemplo, que é diferente de uma criança de quatro anos e, por sua vez, é diferente de uma grávida. O atendimento transcorre dentro do ABCDE. Mas o ato de entubar o recém-nascido é diferente de entubar um idoso de 90 anos, que não tem mobilidade cervical. A traqueia de uma criança é mais fininha e flácida, diferentemente de um adulto”, exemplifica. “O atendimento é o mesmo para todos os pacientes, mas é preciso saber dessas particularidades e tê-las em mente ao atender”.
Durante o módulo, os alunos aprenderam que é possível avaliar um doente politraumatizado em estado consciente de forma rápida e simples em dez segundos: basta perguntar o seu nome e o que lhe aconteceu. Diante dessas perguntas, uma resposta apropriada confirma via aérea pérvia, reserva de ar suficiente para falar, perfusão suficiente e sensório normal.
Além do tempo e da agilidade, que são fundamentais nesse tipo de atendimento, Souki destaca outros itens importantes para o médico e profissional intensivista: preparo técnico, uso de luvas, estetoscópio e raciocínio sobre mecanismo de trauma, essencial para fazer os diagnósticos adequados.
Mnemônica ABCDE
Em tradução do inglês para o português, a Mnemônica ABCDE, cujas práticas devem ser necessariamente seguidas na ordem alfabética, sem pular etapas, foi explicada letra por letra no módulo. A prática da letra A diz respeito à via aérea com proteção da coluna cervical; B diz respeito à respiração e ventilação; C circulação com controle de hemorragia; D disfunção (estado neurológico) e E exposição (controle do ambiente).
No item A, via aérea e proteção da coluna cervical, Souki alerta sobre as principais armadilhas: lesão oculta da via aérea e/ou perda progressiva da mesma; falha do equipamento e insucesso na intubação.
O item B, respiração e ventilação, serve para avaliar e manter oxigenação e ventilação adequada do paciente. O item C, circulação, inclui o controle da hemorragia e avalia a perfursão orgânica. O tratamento da circulação envolve controle da hemorragia, restauração volêmica e reavaliação, sendo esta etapa delicada para idosos.
No item D, disfunção (estado neurológico) deve-se fazer avaliação neurológica basal, escala de Coma de Glasgow e reação pupilar. Nesta etapa, deve-se atentar à possível piora neurológica.
Na etapa E, exposição, deve-se tirar a roupa do paciente, prevenir a hipotermia (ar-condicionado não faz bem aos traumatizados) e se atentar às lesões não percebidas.
Para Souki, há muita lógica dentro da medicina. “O atendimento de um paciente politraumatizado é igual a uma questão de matemática. A + B= C. Só deve-se sair de uma letra (que corresponde a uma etapa) após resolver a anterior. Trate primeiro a maior ameaça a vida do paciente para não perder tempo com outras pequenas ameaças”, orienta.